No dia 09 de maio, o MOVimento ARTetetura e HUMANismo lançou o braço de sua atuação e reflexão artística e arquitetônica no campo do Urbanismo Turístico, Turismo Cultural e Desenvolvimento Sustentável, chamado de ARTeteTurismo. A data foi escolhida por ser o Dia Nacional do Turismo, criada no ano de 1916, quando o governo do Paraná iniciou processo de desapropriação das terras das Cataratas do Iguaçu com objetivo de criar uma reserva ambiental turística pública.
Atento à tentativa de malbaratamento da pauta ministerial cultural, que hoje tem somente status de secretaria e é subordinada ao Ministério do Turismo, o ARTeteTurismo traz uma metodologia de urbanismo artístico aplicado ao Turismo, à exemplo do que o ARTetetura tem feito, ao criar um novo campo epistemológico a partir do uso arquitetônico e antropológico da Arte, como política pública urbana, social, ambiental, sanitária e agora, turística, a partir da metodologia de projeto, pesquisa-ação e arte(etno)metodologia.
O ARTeTurismo vai perscrutar a arquitetura dos caminhos e descaminhos da arte de viajar e de viajar pela Arte. Isso porque, esta mirrada entende as paisagens como substratos naturais e arquitetônicos tangíveis, mas também imateriais. Por meio da cartografia do imaginário e da geografia da infância, por exemplo, os espaços são percebidos como poéticos e culturais, lugares também construídos socialmente pela mente e seus óculos 3D natural.
ARTeteTurismo caminha, assim, para se tornar também um grupo pesquisa inter(trans)disciplinar que visa fomentar reflexões e ações de pesquisa e extensão sobre o campo do turismo cultural em intersecção com o desenvolvimento urbano sustentável. A ideia é que o grupo possa apontar um conjunto de ações socioambientais educomunicativas visuais, sonoras e digitais de caráter cultural e artístico para contribuir para a conscientização da relevância de fomentar e aprimorar modelos de desenvolvimento urbano (rural) sustentável através do turismo interregional nas zonas rurais e urbanas do Cerrado Brasileiro. A proposta visa valorizar a dimensão do vivido e do cotidiano (saber local) na percepção das paisagens culturais e dos imaginários sociais do Cerrado, por meio de uma educação patrimonial que aponte para um (etno)turismo de experiência do patrimônio arquitetônico, ecológico e cultural.
Segundo Fred Le Blue, idealizador do ARTetetura e do ARTeteTurismo, “a reiteração das relações de consumo conspícuo aplicada à fruição turística pós-moderna por meio mais de espaços instagramáveis, do que instantes amáveis, tem impossibilitado o contato do turista com as histórias orais e memórias coletivas presentes nas redes de vizinhança e compadrio do lugar visitado”. Por isso para ele, “a proposta de divulgar as localidades brasileiras por meio de um olhar simbiótico entre o artista, o antropólogo e o aventureiro, é uma forma de ativar vínculos interregionais diminuindo os conflitos latentes inerentes à experiência alhures da alteridade incompreendida ”
A experiência arteteturística do ARTetetura e HUMANismo permite utilizar de um instrumental artístico para salvaguardar ou visibilizar a cultura (material ou imaterial), a memória, a sociabilidade e a urbanidade de ou sobre um determinado local, como um capital turístico atraente e humanizador das relações de interdependência, normalmente, desiguais com que se estruturam o fenômeno do (eco)turismo comercial. A realização extensiva do grupo de pesquisa piloto tem sido o projeto INSPIRI de Educação Patrimonial e Turismo Cultural em Pirenopólis.
O projeto de extensão INSPIRI tenta inventariar o anedotário histórico urbano de Pirenópolis, inspirado por seu patrimônio arquitetônico, natural e cultural material e imaterial. A iniciativa visa contribuir para obtenção do título de Patrimônio Histórico da Humanidade (UNESCO) para Piri. Trata-se também da continuidade da trilogia musical sobre Mulheres e Lugares do Cerrado (LUA & ANA em Alto Paraíso, LIS & BETH em Pirenópolis e CORA & LINA na Cidade de Goiás) , lançada em 2021 pelo selo ArtetEthos do Pequi e Editora Multimídia Brasílha Teimosa.
No material sonoro e visual sobre Alto Paraíso, o compositor e letrista da obra, Fred Le Blue, apontou para recriação do já considerado espaço mítico do Vale da Lua e do Cerrado, mostrando a importância da arte musical e do turismo cultural virtual como instrumental para educação e consciência socioambiental em tempos de pandemia: “A refundação do Cerrado em bases geopoéticas, musicais e políticas singulares, permite perceber o território em sua dimensão cultural, vivida e imaterial”. O material sonoro pode ser escutado gratuitamente em https://soundcloud.com/fred-le-blue/
Em INSPIRI, além do disco LIS & BETH, estão sendo pensadas uma série de ações socioculturais orquestradas para apresentar Pirenopólis como capital da cultural no Centro-Oeste e do turismo cultural no Brasil. Trata-se de um material ecoturístico cultural digital que explora uma ferramenta hipertextual aplicada ao estudo, à defesa e à projeção do patrimônio, memória, arte, sustentabilidade e turismo em Goiás e no Brasil. Seguno Le Blue: “A busca por novas políticas públicas turísticas sustentáveis em Goiás e no Brasil se faz necessária em paralelo com um esforço educomunicativo socioambiental e patrimonial (natural) dos territórios com potencial turístico. Esta ação pretende, assim, dar visibilidade pública à Pirenópolis em momento pós-pandemia para incentivar o desenvolvimento econômico e urbano sustentável na cidade, Por isso, o movimento ARTetetura e HUMANismo está apresentando à cadeia produtiva da economia criativa em Pirenópolis uma linhagem de projetos de extensão universitária em que a arte será utilizada como um instrumento científico de divulgação cultural, de educação patrimonial e de city-matketing. O que permitirá repensar não somente as políticas públicas de turismo, mas também de cultura, urbanismo, meio-ambiente e educação em interseccionalidade”.
Esse city-tour 360 graus pelo imaginário urbano de Pirenopolis, terá também um caráter participativo. Isso porque o projeto catalisará a criação de novos acervos geoafetivos ou ecopoéticos textuais e visuais sobre a cidade. Uma ação sociocultural de empoderamento narrativo e pertencimento local com crianças da rede municipal de educação está prevista para ocorrer no segundo semestre. Além disso, o artista promete deixar como legado para a comunidade pirenopolina, uma plataforma virtual de divulgação turística e cultural sobre as Pedras, Rios e Almas de Pirenópolis, com foco no conceito de paisagem cultural, que inclui mais do que os acervos edificados (pedras), mas também os santuários ecológicos (rios) e as memórias coletivas (almas): www.inspirenopolis.weebly.com
Qual a motivação para a composição de músicas sobre paragens do Cerrado?
“O Cerrado surge na minha música e poética em função de um esforço de transcendência de um geopolítica afetada entre diferentes culturas regionalistas, por meio do mapeamento de uma biogeografia afetiva que mostre, que, do ponto de vista, ambiental, vivemos em um mesmo ecossistema. Ao pesquisar a história recente da música brasileira da bossa-nova, passando pela Tropicália, Clube da Esquina, Novos Baianos, Vanguarda Paulista, Rock Brasiliense, Noites Goianas, Los Hermanos e Natiroots, percebi que a dimensão espacial ganha um relevo de ancoragem poético muito relevante nas obras desses movimentos e grupos musicais artistas. Mais do que um sentido de bairrismo narcisístico, acredito que é a necessidade de orientação espacial, de pertencimento local e de identidade coletiva os fatores que estimulam nossa tendência cartográfica de criar, compartilhar ou buscar mapas mentais sobre localidades através da arte. Esse ímpeto de reconhecimento íntimo através do reconhecimento territorial e vice-versa, é chave que abre os portais de “outros lugares”, que mesmo físicos, são sempre ressignificados pelo nosso imaginário. O que explica porque toda poesia é uma viagem e viajar é sempre fazer poesia.” (Fred Le Blue)
Mas como o ARTeteTurismo já conta com acevo cartográfico e etnográfico musical e/ou visual também sobre diversas cidades brasileiras (Porto Alegre, Rio, Búzios, São Paulo, Brasília, Londrina, Foz do Iguaçu, Curitiba, Goiânia, Brasília, Cidade de Goiás, Salvador, Vitória, Manaus, Belém, Belo Horizonte, São João del Rey, Parati e Poços de Caldas) a ideia é formar um grande mosaico interterritorial do mar e do sertão, mostrando com quantos cor e som-locais se fazem o patrimônio e paisagem cultural do Brasil.
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